segunda-feira, 21 de março de 2011

O corte de cabelo

Cortar o cabelo é um tema delicado. Pergunto-me: Quem é que não saiu desiludida de um salão pelo menos, vá, 100 vezes? A resposta: sortudos/as ou não quem arrisca. Sempre arrisquei muito no que toca ao cabelo. Como ele volta a crescer não me preocupo demasiado. Só de há uns anos a esta parte é que me acalmei mais. Já estou mais serena quanto ao que gosto e ao que não gosto. Desta vez a minha visita ao cabeleireiro era de manutenção. Achei que não corria riscos. Pois bem. Lá fui eu. Quando de repente me apercebo que o cabeleireiro que me calhou é surdo ou mudo.
No meio da confusão de dê cá o casaco, entre gestos e sons, fiquei baralhada. Sentei-me na cadeira e percebi finalmente que aquele senhor muito sorridente e bem disposto (quando lhe dei o casaco para guardar, ele fez sinal para lhe dar o outro casaco e mais o lenço. Depois piscou o olho e fez sinal para continuar a tirar roupa) era surdo.
Sentei-me, ainda sem perceber muito bem como é que aquilo ia funcionar. Como é que eu comunico com um cabeleireiro surdo? Tudo bem. Ele falava mais ou menos, lia nos lábios. Mas mesmo com os que não são surdos há graves problemas de comunicação… A história começa com as revistas de cortes. Primeira sugestão: cortar o cabelo bem curtinho. "Ah! Tá giro!", pensei. E lá disse um grande e redondo: "Não".
Decidimos o que fazer, mas eu continuava baralhada. Porque eu dizia: “franja curta”. Ele parecia dizer que sim, mas gesticulava de que ia ficar espetada. Eu dizia pois, ok. Ele continuava a argumentar que não era boa ideia. Durante uns minutos andamos naquilo. Corta, não corta. Depois da franja, estava ainda mais confusa (era domingo de manhã) ele aponta para um cabelo bem escadeado. Eu estava por tudo. "Sim, sim".
Lá fomos lavar o cabelo.
Parecia o momento mais relaxante e achava que a partir daquele momento não ia haver mais mal entendidos. Quando voltámos a confusão adensou-se. Eu não sou de conversar muito no cabeleireiro. É muito barulho de secador e muita conversa sobre o tempo. Quando me sentei na cadeira, ele começou a meter conversa. Não sei como o tema foi dar ao facto de ele achar que eu era estrábica. Coisa que não sou. Fico-me pela miopia, obrigada.
Achei aquilo ainda mais estranho porque eu não estava de óculos. Será que ele tinha reparado que eu usava lentes? Depois de gestos de óculos, de computadores, de palavras como "feio", fiquei sem perceber se eu era a estrábica ou se era ele. Mas o estrabismo é uma coisa que se identifica e ele não o era. Naquele momento eu estava por tudo. Rape-me o cabelo, faça o que quiser, quero ir dormir.
Resultado final: impingiu-me um produto para o cabelo e deu-me umas valentes tesouradas. Não sai satisfeita. Cheguei a casa e agarrei-me à tesoura para arranjar a franja. Já fiz as pazes com o novo cabelo e não tenciono cortá-lo tão cedo.

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