sábado, 12 de fevereiro de 2011

Depilação em câmara lenta ou como o capitalismo acaba com a qualidade

O tema é delicado e apropriado a senhoras. O salão de estética onde costumo ir tem a particularidade de ser em conta e de mudar de empregadas todos os meses. A última moda não são as brasileiras, mas sim as ucranianas. Pois bem, fui atendida pela Natalya, muito simpática e pouco faladora. Cada vez que me pedia alguma coisa dizia: "Desculpe incomodar. Por favor, importava-se de...". Extremamente cuidadosa e perfeccionista. O que é uma coisa boa, mas também uma coisa má.
A depilação é um processo doloroso e necessário. Natalya sabe disso. Quando chegou a parte das virilhas, ela decidiu fazer pequenas barras de dois centímetros. Muito devagar e com cuidado. Comecei a ficar nervosa e tentar perceber se aquela técnica era eficaz. Normalmente as esteticistas tentam despachar aquilo o mais rápido possível. Barras de cera grandes e zuca! Ela não.
Natalya opera calmamente. Vai buscar cera, espalha uma mini barra de cera, vai buscar banda de papel, puxa. E volta tudo ao início. Depois de 10 minutos na primeira virilha, aparece uma colega do salão a perguntar: "Quanto tempo demoras?". Pobre Natalya, atrapalhada, diz que demora 30 minutos. Demorou muito mais. Mesmo muito mais.
É certo que esta deve ter sido a visita menos dolorosa que fiz à esteticista, mas também uma das mais demoradas. O mesmo processo calmo e pausado estendeu-se às pernas. A dada altura dei por mim nervosa a olhar para o relógio. Estava atrasada, a Natalya estava atrasada e a fila de clientes não parava de crescer.
Gostei da senhora, mas fiquei convencida de que ela não deve durar muito tempo ali. Tanto perfeccionismo e cuidado não condizem com o sistema capitalista. Pelo menos àqueles preços. Naquele centro, o que se quer é ser rápida, eficaz e atender o maior número de clientes possível. Natalya é uma pedra nesse caminho e ao mesmo tempo um mimo para as clientes. Contradições dos tempos modernos.

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