A minha relação com as franjas (bangs em inglês, assim justifica-se o título catita), começou muito cedo e sempre foi problemática. Acredito que as franjas sejam amigas dos pais. Se não veja-se. Uma criança pequena com cabelo comprido é uma trabalheira. Miúdos com cabelos sujos, a bater nos olhos, despenteados. Tem de existir sempre um gancho por perto ou então o cabelo fica oleoso graças às mãozinhas abençoadas das catraias que mexem em tudo. Podem até surgir hábitos nojentos como chupar o cabelo. Adiante.
Para mim a franja significava repressão parental. Aquilo era a decisão da minha mãe. Eu nada podia fazer. A minha avozinha também adorava cortar-me o cabelo curtinho para "ficar forte". Quando finalmente atingi a bela idade de 10 anos, dei o grito do Ipiranga e tive autorização para deixar crescer a franja. Que liberdade. Finalmente achava que parecia uma verdadeira menina. Mas com essa moda surgiu outra relação complexa. Entrava na minha vida uma coisa chamada bandelete.
Recordem-se que a franja passa por uma fase de crescimento estranha. Nem é, nem deixa de ser. Nem dá para andar solta e mal a conseguimos prender. Nesses momentos, aparece outro instrumento de repressão: a bandelete. O que eu sofri com aquelas coisas que me faziam parecer sempre igual em todas as fotos... A emancipação surgiu anos depois e deu resultados tão bonitos como ter cabelo à rapaz. Agora é ver-me com o cabelo comprido, feliz e solta.
Eis se não quando aparece a moda das franjas. (A história está a ficar demasiado grande, mas é para dar mais drama e justificar a mim mesma esta mudança de vida.) Tremi de repulsa. Praguejei. Clamei aos céus por justiça. Resisti durante anos. Até que ganhei coragem e enfrentei o meu ódio de criança. Aquelas pontas irritantes que me batiam nos olhos e que me impediam de fazer aquele movimento incrível de puxar o cabelo para trás. Rendi-me à mudança, abracei o meu "inimigo" e juntei-me a ele. Mas atenção, a franja não é igual à antiga. Isso não suportaria.
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