terça-feira, 5 de outubro de 2010

Telemóveis, "mor" e o fim do Verão

É uma daquelas manhãs que fazem adivinhar que o Verão não vai voltar, por mais que o desejemos. Começou a chover, mas ainda há sol. A temperatura ronda os vinte graus, mas há um vento frio que aparece de vez em quando. Ainda estamos em Setembro e o Verão está perto o suficiente para pensarmos que podemos andar de sandálias e vestidos. Caminho para o carro, quando sou surpreendida por uma mulher que me chama: "Menina, menina! Pode ajudar-me." Olho para ela e vejo uma mulher de vestido de alcinhas cor-de-rosa às flores, com umas sandálias a condizer. Não tem sequer um casaquinho. Acho que lhe falta um dente e leva uma espécie de apanhado no cabelo. Paro para perceber como é que a posso ajudar. Ela estica-me um telemóvel cor-de-rosa e diz: "Não sei ler mensagens, pode ler? É uma mensagem que diz mor." Respondo que sim e receio o pior. Qui ça uma descrição escabrosa de amor ou sexo. Fico com vontade de rir, mas vamos a isto. Afinal, é uma mensagem banal do tal mor. "Não posso ligar amanhã ligo beijocas" Não havia vírgulas, nem pontuação. Repito em voz alta e a senhora agradece. Desde da noite passada que aquela mulher ficou sem perceber o que o "mor" queria. Uma carta de amor sem resposta. A mulher devia ter uns 40 anos. Fiquei com pena. Com Pena por vê-la a andar de vestido de alças num dia frio e com chuva. Com pena por ela não perceber nada de tecnologia e de provavelmente ter ficado uma noite inteira a imaginar que raio o "mor" teria respondido aos insistentes telefonemas dela. Com pena de ter sido eu, uma estranha, a ler-lhe a mensagem secreta do "mor" que não lhe ligou naquele dia e que só ligava no dia seguinte. Sabe-se lá porque razão. E com pena de já não ser Verão.

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