quinta-feira, 26 de maio de 2011

A campanha e as suas idiossincrasias

Muito boa gente não faz a mais pequena ideia em que vai votar. Sabe melhor em quem não vai votar. Estamos sem grandes opções e confesso que o voto branco nunca me pareceu tão apelativo. Deixo aqui um artigo de opinião da jornalista Ana Sá Lopes publicado no jornal i que traz um pouco mais de luz sobre este assunto. Ou então ajuda a perceber que vai continuar breu como a noite.

"Não se preocupem, é a realidade que se enganapor Ana Sá Lopes, Publicado em 25 de Maio de 2011

O contraste entre arquétipos, com o Sócrates furioso, solitário e gastador, é provavelmente a melhor promessa eleitoral do PSD

Reduzindo a coisa à expressão mais simples, ficámos a saber ontem que os avós de Pedro Passos Coelho eram agricultores (declarações durante uma acção de campanha) e que o eventual futuro primeiro-ministro não gasta dinheiro em vestuário, embora a sua mulher já não faça o que a sua mãe fazia - costurar em casa toda a roupa, incluindo lençóis (entrevista a Judite Sousa, na TVI). Já tínhamos a preciosidade do vídeo da Páscoa, de mão dada com a mulher, e a casa da Manta Rota do Verão passado (associado ao grito telúrico de Mendes Bota na festa estival do PSD, incensando o líder por viver em Massamá, um subúrbio de Lisboa).

É muito interessante toda esta radiografia que mete avós, subúrbios, mãos dadas de legítimas esposas, casas de praia e agora costura. Pedro Passos Coelho ensaiará até dia 5, e provavelmente com sucesso, a comédia do homem normal, que, reconheçamos, cumpre exemplarmente. O contraste entre arquétipos - o Sócrates furioso, solitário e gastador (em fatos e em férias em hotéis de cinco estrelas, fora o resto) - é provavelmente a melhor promessa eleitoral do PSD.

Estamos nisto. Sabíamos que a campanha eleitoral nunca teria interesse nenhum, devido ao facto de o programa de governo (imposto pela troika) ter sido aprovado antes das eleições pela futura maioria parlamentar - PS, PSD e CDS. Quanto a quem ocupa a cadeira de "representante da República" em versão nacional, as sondagens de ontem voltaram a baralhar, repetindo as ameaças de empate técnico entre socialistas e sociais-democratas.

Mas o "empate técnico" que as sondagens ainda revelam vai contra toda a ordem natural das coisas - digamos que muito bom consegue ser Sócrates para continuar a segurar, nas sondagens, resultados assim.

O que é verdadeiramente espantoso nos números que têm sido avançados por todas as sondagens de há muito tempo para cá é a total irrelevância da esquerda à esquerda do PS. A confirmarem-se os números, o Bloco de Esquerda está em desagregação, enquanto o PCP mantém o seu reduto militante, mas não mais do que isso. Aparentemente, os antigos eleitores do PS provenientes do centro já se passaram para o PSD, estando os socialistas a serem "compensados" com a fuga de antigos eleitores bloquistas em nome de um qualquer voto útil. Mas não será só isso: a campanha presidencial de Manuel Alegre foi um dos maiores erros do Bloco de Esquerda - embora inicialmente tudo estivesse preparado para "dar certo". Manuel Alegre chegou a ameaçar mais do que três vezes abandonar o PS e constituir um partido político à parte e, evidentemente, esse partido de esquerda alegre, aliado ao Bloco de Esquerda, poderia transformar-se num sucesso eleitoral e numa eventual alternativa à esquerda.

Nada resultou: Alegre manteve-se no PS e ao lado de Sócrates - vai participar no fim de festa, num comício um dia destes - e o Bloco perdeu o rumo. Se nem a crise, o desemprego, os cortes sociais "salvam" a esquerda, o que o fará?"

para ler aqui

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