quarta-feira, 12 de outubro de 2011

O meu cesto do almoço

Uma coisa que escrevi por aí no universo das letras impressas.

Somos uma geração de nostálgicos,a maralha dos 25 aos 40. É ver-nos
aos pulos quando descobrimos uma loja que vende os Pinypon e o castelo do He-Man. Chegam a vir-nos as lágrimas aos olhos quando ouvimos o genérico da Arca de Noé (aqui
me assumo) e ficamos emocionados ao rever o imbatível guarda Serôdio. Os blogues sobre o tema nascem como cogumelos e Nuno Markl tem ajudado, e muito, esta geração
faminta por viagens no tempo. Mas recordar nem sempre é bom. Digamos, por exemplo, recordar o cesto do almoço. O verbo odiar, conjugado em situações extremas, assenta aqui que nem uma luva. Odiava tanto o meu cesto do almoço que sempre que o via dava-lhe pontapés. Mas pontapés a sério, do alto dos meus quatro anos. O cesto do almoço era igual a ver uma sopa verde com batata cozida(ou melhor, um monstro verde) e significava que não ia comer à casa dos meus avós. Aqueles almoços não eram memoráveis só por causa da comida, mas sim pela viagem. Imaginação nunca faltou ao meu avô, por isso andar de carro com ele não era rotineiro. O carro transformava-se no que nós quiséssemos. Podia ser um comboio, com o meu avô a fazer os barulhos “pouca terra”, um jipe, com ele a passar por cima de buracos, e até o elevador
era um helicóptero, um avião, o que nós quiséssemos. O cesto tricolor, de verga, significava que ia comer na escola, ao lado das auxiliares que me fiscalizavam
porque às vezes deitava a sopa no lixo quando as apanhava desprevenidas. Detestava tanto o cesto que quando o revi voltei a sentir o cheiro do refeitório e a recordar-me do termo com dois compartimentos: sopa + prato principal. Hoje parece-me mais inofensivo. Mesmo assim não o quero lá em casa.

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