domingo, 22 de agosto de 2010

"Está a ficar fresquinho. É melhor vestires um casaco"

São 19horas de um dia de Agosto. Estou sentada numa cadeira à porta de casa cercada por árvores. De repente, sem nada me preparar, nem uma aragem fresca ou uma ligeira descida de temperatura, surge a voz: "Está a ficar fresquinho. É melhor vestires um casaco". Há uns anos tal comentário seria o suficiente para me fazer saltar a tampa e logo a seguir sair-me com uma tirada insensível, ao melhor estilo de adolescente revoltada sem razão. Desta vez, não.
Senti umas saudades ao ouvir aquela frase. A voz da mãe e o diminutivo "fresquinho", para não parecer demasiado exagerada (característica fundamental numa progenitora) fizeram-me sentir um saudosismo. Realmente não há ninguém como a mãe. É um ser que não descansa e o que nos vai avisar sempre de tudo. De que está frio, mesmo que o sol brilhe lá fora. De que temos fome, apesar de não sabermos. De que temos de pôr o chapéu, mesmo tendo o cabelo molhado. De que temos de dormir, porque no dia seguinte não vamos conseguir levantar-nos da cama. De que aquele amigo não é assim tão fixe.
Ainda é cedo para ser nostálgica, é certo, mas nesse momento tive uma mini epifania. Nunca voltarei à infância. Ela nunca mais me vai vestir um casaquinho. Nunca mais me vai atar os sapatos. Nunca mais me vai pegar ao colo e fazer com que me sinta altíssima (já sou mais alta do que ela). Nem nunca mais vai inventar histórias para me fazer comer e muito menos levantar-se da cama a meio da noite para trazer uma copo de água à criança mimada que grita do quarto: "Tenho sede". Passou. Mesmo assim, terei sempre aquela voz a repetir-me que está frio e que tenho de comer mais. Mesmo que seja só de vez em quando.

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