quinta-feira, 29 de julho de 2010

Dias esquizofrénicos

Há dias que é preciso uma bússola para sobreviver. Esses dias parecem não ter fim e são uma esquizofrenia de emoções. Tanto se está bem, com uma energia imparável, ou se tem está prestes a adormecer. Dizem-se as maiores parvoíces. As piadas mais secas e estúpidas. O cansaço bate e parece que o filtro entre o cérebro e a boca desaparece. Entra-se numa espiral de pensamentos loucos, soltos, desgarrados e parvoíces sem fim. De repente, sinto-me na sala de aula numa sexta-feira à tarde. Naquela fase em que os putos estão tão cansados e fartos da escola que só fazem porcaria. Gritam, esperneiam, chamam nomes, dizem coisas parvas. Mal podem esperar pelo fim-de-semana. Enfim. Eventualmente, o fim-de-semana chega e a esquizofrenia acaba. Uffa!

quarta-feira, 28 de julho de 2010

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Reabilitar telefonia

Domingo à tarde. Sol forte a entorpecer o cérebro. Calor que deixa qualquer um catatónico. Até os pássaros voam mais devagarinho. É este o cenário. Depois de uma viagem de carro chego a casa e dedico-me a uma actividade antiquada. Ligo o rádio e fico a ouvir sentada no sofá. Não há televisão acesa, nem gadgets ligados. Até se ouvem os estalinhos da rádio. Tinha começado a ouvir o programa de entrevistas da Inês Meneses, na Radar, e decidi continuá-lo em casa. De repente apercebi-me da tranquilidade daquela actividade e fiquei com vontade de ouvir uma telenovela inteira na telefonia. Nunca ouvi uma história no rádio. Deve ser viciante. Tens de parar e ficar atento. A imaginação voa. Tens mais liberdade. Crias o teu mundo. Não tens a televisão a fazer-te o favor de imaginar por ti. Manifesto do dia: ouvir mais rádio em casa e reabilitar as histórias de telefonia.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Puxaram-me o tapete



É um Hitchcock do século XXI, com GPS e telemóveis. Mas com a mesma riqueza nos detalhes. Há cenas magistrais, jogos de sombras e luzes riquíssimos e momentos de suspense que causam arrepios e calafrios. Um luz apagada, uns cortinados abertos e uma rua deserta podem ser assustadores. "O Escritor Fantasma", de Roman Polanski, é um murro no estômago, um despertar dos sentidos e um triller viciante. É o tipo de filme em que sentimos que nos puxaram o tapete. No bom sentido. O episódio do GPS e a última cena do papelinho, que anda de mão em mão, são a razão que nos leva ao cinema. Obrigada Sr. Polanski.

Arrancar em primeira

É mais difícil que acabar e ultrapassar o marasmo desértico do "middle". Saber que pela frente temos um trabalho hercúleo, uma tarefa sobre-humana e não podemos falhar. Arrancar a primeira é tramado. Arranja-se mil e uma tarefas para fazer antes, coisas que nos parecem, sem sombra de dúvida, muito importantes e essenciais. "Preciso mesmo de ouvir esta música até ao fim" ou "Agora é o melhor momento para tirar esta fotocópia". Tudo serve. Tudo é muito mais importante. Mas não é. É só uma estratégia bastante básica, diria mesmo rudimentar, de protelar a tarefa. Até adio o almoço, só porque sim. Aqui me confesso e avanço corajosamente para... o almoço. Mas depois, ah depois, vou começar. Pronto. Está dito e prometido.

terça-feira, 20 de julho de 2010

A simplicidade complicada


Gostar de coisas simples parece um luxo, um pensamento elaborado de narrativa complexa e filosófica. Mas não é. Ter mais prazer a dar um simples passeio na rua de mão dada do que a assistir a uma megaprodução de teatro ou a disfrutar de um jantar de gourmet é palpável, é real. Vale a pena celebrar as coisas simples e dar-lhes o devido valor. Passear a pé na minha rua e encontrar um miradouro de Lisboa. Sentar-me numa esplanada, olhar a paisagem, beber um café e conversar sobre os temas mais banais do mundo é mais revigorante que muitas sessões de spa. Tenho dito.

domingo, 18 de julho de 2010

Ideias soltas num domingo soalheiro


Sem ordem nem organização, aqui vai.

- Quero adoptar o Gilberto Gil como terceiro avô (sr. na imagem em frente ao microfone). Tive o privilégio de o ver a uns metros de mim a ensaiar e a conversar sem público por perto. Conclusão: é o mais fofinho. Simples, simpático e doce. De cabelo grisalho, aquele sotaque quente e a mesmíssima voz dos discos. Preocupado com os outros, uma pessoa normal, sem tiques de estrela, com um olhar muito terno. Cruzei-me com ele no elevador. Apanhada de surpresa só consegui dizer "Olá". Ele respondeu de volta: "Olá". :)

- Estou a ouvir em repeat Kings of Convenience. Adoro!

- Andar de avião é muito bom, mas a turbulência é uma das piores coisas de sempre. A sensação de cair no vazio é terrível. Depois de sobreviver a uns quantos minutos (mais pareciam horas) de abanões e solavancos, o barulho mais assustador é o desembrulhar dos saquinhos de papel. É a antecipação do terror. Começa-se a ouvir aquilo e a pensar: "Não! Ohhh, por favor, não. Não vomitem." Vomitaram... Tive de me aguentar estoicamente. A transpirar, com o estômago na boca. Missão cumprida. Sobrevive e não vomitei.

- Quando for velhinha gostava de viver num terra como Gent, na Bélgica. Porquê? Porque as pessoas têm tempo. Andam de bicicleta, saem do trabalho cedo, as lojas fecham às 18horas e depois há esplanadas, restaurantes e concertos à noite. Único problema: o clima não é grande coisa.

- Viajar nunca é demais. Sempre que venho de viagem, mais ou menos cansada, gosto de entrar em casa e ver as minhas coisas. Fico é sempre com vontade de voltar a partir.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Treinar a imaginação

À conversa com um escritor argentino redescobri a imaginação. Agora encaro-a como um músculo, mais resistente que os meus, é certo, e bem tonificado. Ele dizia-me: "A imaginação treina-se. Quem é que tem mais imaginação? As crianças. Porquê? Porque passam os dias a brincar, a inventar e a imaginar. Ou seja, a treiná-la. Quando nos tornamos adultos isso pára." Aqui está uma ideia simples para aplicar no fim-de-semana: imaginar. Contrair o avanço da idade, porque não há melhor remédio para a vida do que imaginar reinos fantásticos, aventuras e histórias. Vamos então a isso.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

É só um vestido senhores!

Um vestido pode parecer uma coisa simples. É uma peça de roupa ideal para um Verão de 30 e tal graus. Vim a descobrir que não é bem assim. Pelo menos, não é assim com todos os vestidos. Começo por explicar que os meus vestidos não costumam ser curtos. Acho que só me apercebo do seu comprimento pela reacção dos outros. Hoje foi um desses dias. Logo de manhã, vi os pescoços das senhoras a contorcerem-se para olhar para mim de soslaio. O pensamento devia ser: "Quem é que esta pensa que é?". Eram umas intelectuais do mundo jornaleiro a que pertenço que adoram calças, blusas compridas e coisas indie e alternativas. Na realidade, elas estão convencidas que a inteligência dos outros se mede pelo aspecto. E ao que parecer ser sexy é sinónimo de falta de intelecto. Se essa reacção me irritou, a dos homens não foi melhor. Lanço a questão: por que raio é que acham que têm o direito de olhar para uma pessoa como se ela estivesse sem roupa ou como se fosse a última coca-cola do deserto? Podem olhar, já que isto se trata de uma democracia, mas disfarcem. É o mínimo. Não estou para aqui armada em convencida. Queria apenas usar o meu vestido sem me sentir observada e sem estar sempre a pensar: "Está rasgado?", "Sujei-me?". Catano, é só um vestido curto, um bocadinho acima do joelho. Não é um escândalo. É um vestido. Está calor! É normal! E como dizia uma amiga: "menos! muito menos!"

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Hospitalidade no cimo do monte

Não é uma história nova, mas precisa de ser contada. Depois de fazer uma caminhada nocturna numa serra deste país, vim a descobrir que o passeio incluía uma emoção extra. No fim de um percurso de quase cinco horas, eis se não quando o guia se vira para nós e nos avisa que vamos entrar numa propriedade privada. Como se não bastasse, até nos cruzarmos com os donos e começarmos a interagir, tínhamos de subir um monte enorme. Para aí uns dez minutos em propriedade alheia, uma espécie de alvo em movimento. Quando chegámos ao cimo do monte somos recebidos com copos de vinho, bolo de noz e talhadas de melão. Não há nada como a hospitalidade tuga! É certo que os donos do terreno estavam a dar uma festa de aniversário e àquela hora só as crianças não estavam com os copos. Mas adiante. Foi um momento bonito. Depois de uma caminhada, um copo de vinho verde e uma fatia de bolo é a melhor recompensa de sempre. Um grande obrigado ao sr. Vitoriano! :)